Produzir imagens é produzir afetos e sentidos

Lucinete Morais – historiadora, antropóloga e realizadora audiovisual

Marta Kalunga é uma obra antiracista ao propor o deslocamento do corpo da mulher negra e das trajetórias de vida quilombola a partir do encontro com a protagonista da narrativa fílmica. Uma obra anticlassista quando se horizontaliza as funções da indústria cinematográfica.  

Cabe dizer aqui que muitos foram os colaboradores desta obra, sem remuneração, feito na base do afeto, da amizade e por acreditar no encontro antropológico. Apenas, Thaynara Rezende recebeu uma verba simbólica pelo trabalho de filmagem e edição do filme. Marta Kalunga e eu investimos nossos recursos pessoais. Marta entrega sua história e eu materializo com meus recursos criativos, financeiros e parcerias para a realização da obra.  

Sem dúvida nenhuma, uma obra com foco no gênero, na vida da mulher quilombola Kalunga que se apresenta pelo real e o desejo dos lugares ocupados pelas mulheres na sociedade.

Desenvolver esse trabalho dentro dos caminhos da antropologia visual me levou a refletir sobre a produção e uso das imagens que estão num lugar de poder, identidades e memórias. Este trabalho de etnografia audiovisual é uma luta contra o condicionamento que fomos submetidos pelas imagens de subordinação, inferiorização e violências dos livros didáticos e dos meios de comunicação de massa que auxiliam na normalização do racismo estrutural e outras formas de opressões sociais.

Acredito que o trabalho de antropólogos visuais é sobretudo pensar formas de reparação histórica em que se anulou, silenciou, oprimiu e exterminou modos de vida. É um trabalho de não apenas fotografar/filmar/desenhar, mas o porquê fotografar/filmar/desenhar tal modo de vida, pessoa, território, bem. Que histórias queremos contar?

O filme Marta Kalunga se torna o próprio campo, entendido como ferramenta que permite atribuir significados e sentidos aos diferentes sujeitos na produção etnofílmica, principalmente na valorização dos patrimônios imateriais e seus territórios.

Conduzidos pelo corpo/território de Marta, vamos de encontro com sua história, sua busca pela valorização da memória e preservação da cultura Kalunga, entremeadas por seu tear e dança da sussa. O documentário de 30 minutos também é classificado como etnoficção na antropologia visual e estreou no dia 01 de julho de 2022, em ocasião da inauguração da Casa Memória da Mulher Kalunga na cidade de Cavalcante e aniversário de Marta.

Nossa circulação em festivais e mostras de Cinema começou no mesmo ano:

IV Mostra Clandestina (22/10/22 premiere) 2022      

Melhor Fotografia

Melhor Filme – Júri Popular

V Mostra Competitiva de Cinema Negro Adélia Sampaio 2022                

Melhor Média-metragem

CONSUNI UFG 2022           

Homenagem

24° FICA 2023

Melhor Documentário

Melhor Direção

Melhor Atuação

Melhor Trilha Musical

Student World Impact Film Festival 2023                                                        

4 ̊ Melhor Documentário

Agora, em 2023 tenho me esforçado para participar das Mostras e Festivais na área da Antropologia Visual, pois esse trabalho também faz parte da minha pesquisa doutoral em Antropologia Social pela Universidade Federal de Goiás em que trabalho a produção de imagens numa perspectiva decolonial afim de contribuir com a reparação histórica em que nossos corpos dissidentes são alvos de embranquecimento, inferiorização e subordinação social.

E, para finalizar Marta Kalunga é uma contranarrativa. O filme é uma ferramenta e suporte para transmissão de saberes às gerações futuras. Cabe a nós pesquisadores, antropólogas visuais, cineastas e produtores estarmos atentas as produções das imagens, que contribuição propomos, já que o filme vai além de nós. No caso do filme Marta Kalunga optamos por uma linguagem antirracista, de não falar diretamente sobre o tema, mas de centralizar o corpo-memória de Marta como condutora, guia do espectador pelo território, apresenta seu trabalho com a linha Kalunga, o fio da sua memória, reza e comemora com a dança da sussa.

Cavalcante . Goiás . Brasil . 2022
Distribuição: Thaynara Rezende Produções

Direção
Marta Kalunga
Lucinete Morais
Thaynara Rezende

Protagonista
Marta Kalunga

Elenco
Iáia Procopia – Rezadeira e Matriarca Kalunga Ddo Riachão/Monte Alegre de Goiás
Bia Kalunga – Neta de Iáia Procópia e Liderança Comunitária
Henri ( Indy ) – Francês
Delcimar Borges ( Cabeça ) – Dono Do Bar
Edezio Silva ( Parceiro ) – Sanfoneiro
Romão Ferreira – Zambumbeiro

Pesquisa
Lucinete Morais

Roteiro
Marta Kalunga
Lucinete Morais

Produção Executiva
Lucinete Morais

Produção
Lucinete Morais
Marta Kalunga

Direção de Fotografia
Thaynara Rezende, DAFB

Desenho De Som
Marlúcio Rezende

Som Direto
Thaynara Rezende, DAFB

Trilha Sonora
Marlúcio Rezende

Música Original
Josué Do Cerrado

Preparadora Corporal
Fernanda Muniz

Montagem e Finalização
Thaynara Rezende, DAFB

Arte Gráfica e Cartaz
Mariana Waechter

Transcrição
Janaina Santa Cruz

Tradução Inglês
Gabriel Stone

Tradução Espanhol
Violeta Arvin Casoni

Tradução Alemão
Stefan Kellner

Legendas
Thaynara Rezende, DAFB

texto escrito por: Lucinete Morais – Historiadora, Antropóloga e Realizadora Audiovisual

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