Michely Ascari é graduada em Cinema e Audiovisual na UEG e transita entre projetos de cinema em SP e Goiás.
Infância e Carreia
Meu nome é Michely Ascari, tenho 29 anos, nasci em um bairro da periferia de São Paulo, na capital. Já cedo entendi que gostava de trabalhar com imagem e aos 15 anos iniciei minha carreira com fotografia still, fazendo eventos corporativos, aniversários e fotos publicitárias.
Tenho 10 anos de Audiovisual, iniciei minha carreira no audiovisual na equipe de câmera, como segunda assistente no curta metragem A militante, um filme do diretor Pedro Novaes e com direção de fotografia de Emerson Maia. Na época, não tinha experiência com cinema, mas muita vontade de estar na equipe de câmera em um set de filmagem. Conversei com o diretor e o fotógrafo, que me colocaram no projeto, onde trabalhei de graça apenas para ter a experiência que eu sonhava. Ali aprendi, sobretudo, qual deve ser a postura do profissional dentro de um set, os cuidados com os materiais e a organização do tempo de um assistente. Depois desse trabalho, não parei mais.
Muitas mulheres cineastas me inspiraram no começo da carreira e me inspiram até hoje, como Agnès Varda e Chantal Akerman. São mulheres que falam sobre si, pensam o cinema de um modo completamente diferente, constroem e desconstroem a linguagem e o mais importante, não enxergam barreiras no que desejam comunicar.
Dificuldades
Não existe um único momento, o momento “mais difícil”, a cada projeto me deparo mais diferentes desafios, dificuldades técnicas, de relações, criativas… Cada dificuldade é também um novo desafio e um caminho de aprendizagem.
processo criativo
No meu processo criativo, tento enxergar todos os aspectos que deram base aquele projeto até o momento da minha chegada. Quais foram as reflexões e questões que acompanharam a escrita do roteirista? O que o diretor pretendo contar? Quais sensações ele pretende despertar?
Mergulho no universo que está sendo construído e a partir dali, trago o que é meu, minha própria caixa de referências visuais e culturais. Procuro buscar o que, das minhas referências, desperta as questões que o restante da equipe busca e sente e assim sigo, em um processo constante de busca por novas referências que dialoguem com a particularidade de cada projeto.
Sinto que cada projeto é um corpo individual, vivo e que contém suas próprias características. Tiro aprendizagens de todos eles e levo junto comigo o que acredito que me ajudará e acrescentará em outros projetos.
Amo trabalhar em projetos menores, onde a equipe tem espaço para criar e executar de uma forma horizontal. Justamente por isso, tive um grande impacto quando participei, pela primeira vez, de uma grande produção para uma plataforma VOD, foi um choque de realidade, pela magnitude do projeto e pela dinâmica tão diferente, nesse projeto pela primeira vez eu era apenas a Michely, profissional técnica de câmera, e era esse o meu papel. Acredito que ali uma chave profissional também mudou dentro de mim.
Eu busco tudo, sou uma inquieta por natureza. Acho minhas referências em todos os lugares. Gosto de olhar para os lugares, para cada situação, e me abastecer disso.
Procuro manter um registro físico de algumas coisas, através de pastas com imagens, fotos, caderno de anotações. Amo ver livros, folhear páginas de imagens de fotógrafos, artistas e pintores que desconheço, anotar seus nomes e a partir dali ir buscando mais sobre seus trabalhos.
Acho essencial também a troca. Me abasteço e aprendo muito conversando com outras pessoas, trocando referências, vendo o que os interessa e porque os interessa. Tudo isso vai virando uma grande bagagem.
Mercado Goiano e novos profissionais
Para mim, pessoalmente é difícil falar sobre o que é o mercado de audiovisual goiano hoje, mas posso dizer talvez o que foram minhas inquietudes com o mercado.
Durante o governo Bolsonaro, sofremos uma grande crise na cultura. Além disso, veio a pandemia, que extinguiu qualquer set que ainda estava resistindo em acontecer. Nesse momento, tomei a decisão de voltar a São Paulo e tentar iniciar uma carreira em paralelo entre os dois mercados. Acho que essa decisão vem de uma busca em ter meu trabalho como profissional criativa e técnica mais valorizado, em ser remunerada de maneira justa e ter condições dignas de trabalho.
No entanto, nunca pensei em abandonar completamente meus projetos em Goiás, sobretudo pensando no âmbito da ficção. Eu admiro muitos diretores e realizadores goianos e acho que, a maneira como contamos as nossas histórias em Goiás, falam comigo em um lugar muito mais íntimo, sobre questões que eu acredito e histórias que eu quero contar. É sobre um cinema mais verdadeiro, que fala sobre o regional, que olha com cuidado para seus personagens e que discute temas universais através das suas próprias histórias.
Aos novos profissionais, diria que experimente todas às áreas, não tenho medo ou vergonha de testar absolutamente tudo até você se encontrar. E quando encontrar, persista, estude e trabalhe muito.
Você está trabalhando em algum projeto atualmente, há algum projeto futuro que seja interessante contar?
Estou em fase de finalização de três projetos goianos, onde fui diretora de fotografia. São projetos que me orgulho muito, por diversos motivos, de estar envolvida. São eles o sensível curta metragem “Família”, das diretoras Carla Villa-Lobos e Júlia Araújo, o documentário “ O último Encontro”, com direção de Pedro Novaes, e o episódio piloto da série de ficção “A Arte da Guerra”, dirigido por Jarleo Barbosa.
Redes sociais
Meu Instagram é a rede social onde eu sou mais ativa. Às vezes demoro, mas sempre respondo! rs. (@michelyascari)
Muito boa a entrevista! Inspiradora.